A partir do nosso podcast sobre Gênero e Feminismo, com participação da especialista Ana Hining, trouxemos aqui para o nosso blog um pouco desse bate papo, riquíssimo em detalhes. A primeira parte do podcast tratou sobre Gênero, e trouxemos esse tema em um primeiro artigo que te convidamos a acessar por aqui. Para essa segunda parte, vamos enfatizar nossa discussão sobre o tema Feminismo! Confiram o conteúdo na íntegra em https://bit.ly/papodiversidade1.
Nossa convidada Ana é Psicóloga, mestre em Psicologia e pesquisadora nas temáticas de sexualidade e feminismo. E a anfitriã deste podcast fui eu, Tatiana Takimoto, mestre em gestão do conhecimento, entusiasta da causa da diversidade e ativista pela inclusão mais pessoas da diversidade nos ecossistemas de tecnologia e inovação.
Ana explica que o feminismo não é o contrário de machismo. Machismo parte da premissa que as mulheres são inferiores e instauram uma desigualdade de gênero, abrindo espaço para todo tipo de violência contra mulheres e outros grupos que também são vistos como inferiores ao homem cisgênero e heterosexual. Já o feminismo é um projeto político de combate à desigualdade.
Isso nos leva para um ponto bastante crucial da nossa conversa que foi quando Ana traz a questão do sujeito do feminismo. Costumamos dizer que o feminismo é das mulheres para as mulheres e parece que o sujeito são sempre as mulheres. Entretanto, vários autores defendem que o feminismo vai para além das mulheres e coloca como sujeito todos aqueles que sofrem opressão e cujas vidas são precarizadas por conta do gênero. Por isso o feminismo é democrático e é uma política pelo fim das desigualdades.
Além disso, Ana enfatiza que hoje em dia não faz mais sentido falar de feminismo no singular. Há um consenso entre feministas que o feminismo deve ser tratado no plural, pois há o feminismo negro, o transfeminismo, o feminismo socialista e vários outros. Todos lutam pelo fim da desigualdade, porém é importante não homogeneizar, pois as experiências das mulheres são muito diversas. A experiência das mulheres negras por exemplo, é profundamente diferente da experiência das mulheres brancas.
Quando perguntamos sobre misoginia e os efeitos psíquicos na mulher, Ana respondeu que eles são inevitáveis, pois é muito difícil crescer e se constituir como sujeito quando todos à sua volta, seja através de filmes, novelas, livros, propagandas, nas relações de amizade ou afetivas, fazem você achar que é um ser inferior. Muitas mulheres acabam internalizando isso e acreditando nesses discursos como se fossem verdade, o que muitas vezes leva a problemas psíquicos que precisam ser tratados.
Ana disse ainda que por mais que esteja escrito que todos somos iguais perante a lei, nós não somos. Isso aparece muitas vezes nas oportunidades que são tolhidas e na violência contra mulheres e contra outras pessoas que não correspondem às normas. Por isso a educação sobre as políticas de igualdade de gênero são tão importante nas escolas. É preciso projetar um futuro mais igualitário. O Estado e a Escola devem assumir o papel na construção de um futuro onde mulheres tenham as mesmas oportunidades e onde homens aprendam a não as violentarem. Quando uma mulher sofre uma violência, seja ela moral ou física, todas nós somos implicitamente violentadas. Então a responsabilidade de lidar com a dor e com o dano psíquico não é só da mulher que passou pela violência, mas é de todos nós. Por isso a importância do coletivo, das articulações políticas para construção de uma sociedade mais justa.
Fechando este artigo, onde agradecemos imensamente a participação da Ana, trazemos o recado de que precisamos assumir uma dor que parece individual e ressignificá-la para combater a desigualdade. Entendemos que o slogan #juntossomosmaisfortes é muito verdadeiro e não podemos fingir que não vimos algo que aconteceu e prejudicou alguém. Temos sim que nos posicionar de forma coletiva e assumir essa dor, que é nossa também.